Reportagem retirada por completo da Folha.com.
Um abaixo-assinado que critica as práticas de mercado da maior editora científica do mundo, a Elsevier, já tem mais de 6.200 signatários, a maioria pesquisadores de instituições públicas. O organizador do boicote contra a empresa, porém, está na iniciativa privada.
Tyler Neylon, 32 (imagem abaixo), diz que os altos custos de assinaturas de periódicos e o policiamento contra a livre circulação de artigos na internet prejudica as pequenas companhias que contribuem para a ciência e para a inovação.
Em entrevista à Folha, Neylon explica o que o motivou a começar o movimento.
Folha - O sr. está fora do meio acadêmico. O que o motivou a propor um boicote à Elsevier?
Tyler Neylon - Sou cofundador de uma empresa pequena e gosto de fazer pesquisa, mas não tenho como arcar com esses preços. Se eu quiser escrever um artigo sério, com cem citações, e o preço médio de periódicos científicos continuar em US$ 40 [cerca de R$ 68], faça as contas: eu teria de pagar US$ 4.000 [R$ 6.800] para submeter um único artigo. Se eu quiser assinar um periódico, o preço médio é US$ 22 mil [R$ 37,5 mil]. Mesmo eu tendo um doutorado hoje, fazer pesquisa é algo fora do meu alcance.
Você esperava que o abaixo-assinado ganhasse tanta força nas instituições públicas e universidades?
Bom, as pessoas que realmente têm influência são os professores universitários e eles estão mais a par de problemas como o dos NIH [Institutos Nacionais de Saúde dos EUA], que estão brigando pelo direito de abrir o acesso ao resultado de suas pesquisas. E esse é mesmo um problema importante, mas existem outros atrapalhando a pesquisa na iniciativa privada.
Como vocês esperam que a Elsevier reaja ao boicote?
A maior parte dos pesquisadores apenas quer abandonar completamente a publicação lucrativa e mudar para o acesso aberto, mas isso não é algo em que a Elsevier os acompanharia.
Uma coisa menos drástica que a editora poderia fazer é dar apoio a um projeto de lei de acesso público de pesquisa, que foi lançado há uma semana no Congresso dos EUA. Hoje eles apoiam outro projeto de lei, cujo objetivo é praticamente o oposto.
A Elsevier diz que não é contra o acesso aberto por princípio, mas alguém precisa pagar pelo processo de publicação e revisão.
A Elsevier precisa deixar mais clara a sua posição sobre o direito dos autores de publicar seus estudos em suas páginas pessoais. A política deles em relação a isso é muito confusa e contraditória. Uma coisa que eles poderiam fazer é adotar o modelo da Public Library of Science, uma editora científica que cobra os autores pela submissão de artigos, e não os leitores. Isso funciona porque autores que publicam em bons periódicos recebem benefícios em troca. E são sua universidades, em geral, que pagam essa taxa.
A Elsevier precisa deixar mais clara a sua posição sobre o direito dos autores de publicar seus estudos em suas páginas pessoais. A política deles em relação a isso é muito confusa e contraditória. Uma coisa que eles poderiam fazer é adotar o modelo da Public Library of Science, uma editora científica que cobra os autores pela submissão de artigos, e não os leitores. Isso funciona porque autores que publicam em bons periódicos recebem benefícios em troca. E são sua universidades, em geral, que pagam essa taxa.
No meu caso, mesmo eu sendo um pesquisador independente em uma pequena empresa, eu preferiria pagar por isso --eles costumam cobrar uns US$ 1.000-- para publicar minha pesquisa, do que ter que arcar com os custos para fazer a pesquisa antes. No modelo da Public Library of Science, a motivação para pagar é colocada no lugar certo.
Uma das comunidades de pesquisa que mais aderiram ao documento é a dos matemáticos. Existe alguma diferença entre os matemáticos e os biólogos que os torne mais proativos na campanha pelo acesso aberto?
Eu não tenho como falar pelos pesquisadores de outras áreas. Talvez exista uma consciência maior na matemática, porque existe muita interação com as ciências da computação. Muitas pessoas na área têm consciência de quão fácil seria mudar todo o modelo de publicação científica. A única razão pela qual isso ainda não mudou é que alguns periódicos atuais ainda tem muito prestígio, e isso tem seu valor.
Eu não tenho como falar pelos pesquisadores de outras áreas. Talvez exista uma consciência maior na matemática, porque existe muita interação com as ciências da computação. Muitas pessoas na área têm consciência de quão fácil seria mudar todo o modelo de publicação científica. A única razão pela qual isso ainda não mudou é que alguns periódicos atuais ainda tem muito prestígio, e isso tem seu valor.
Vocês acham que vão afetar o prestígio de periódicos da Elsevier com o boicote?
Pelo menos três ganhadores da Medalha Fields --o prêmio para matemáticos que tem o mesmo peso de um Nobel-- já prometeram nunca mais publicar em periódicos da Elsevier. Timothy Gowers, Terence Tao e Wendelin Werner assinaram a petição. Em um dos periódicos da editora, um matemático anunciou que vai abandonar o conselho editorial. Então, acho que já estamos tendo algum impacto.
Pelo menos três ganhadores da Medalha Fields --o prêmio para matemáticos que tem o mesmo peso de um Nobel-- já prometeram nunca mais publicar em periódicos da Elsevier. Timothy Gowers, Terence Tao e Wendelin Werner assinaram a petição. Em um dos periódicos da editora, um matemático anunciou que vai abandonar o conselho editorial. Então, acho que já estamos tendo algum impacto.
O abaixo-assinado não está tentando crucificar a Elsevier por uma prática que há em todo o setor de publicação?
Posso responder como isso ocorre na minha área: nenhum matemático recebe dinheiro para fazer revisão de artigos, e os editores dos periódicos também não são pagos. O fato de as editoras precisarem de dinheiro para organizar a revisão de artigos é verdade até certo ponto. Alguns periódicos têm editores e equipes pagos pela editora, mas na maioria das publicações não é assim.
Posso responder como isso ocorre na minha área: nenhum matemático recebe dinheiro para fazer revisão de artigos, e os editores dos periódicos também não são pagos. O fato de as editoras precisarem de dinheiro para organizar a revisão de artigos é verdade até certo ponto. Alguns periódicos têm editores e equipes pagos pela editora, mas na maioria das publicações não é assim.
Se tem tanta gente trabalhando de graça, por que não fazer isso dentro de uma plataforma em que o acesso aos artigos seja gratuito?
A razão pela qual nos concentramos na Elsevier e não na Springer ou na Wiley-Blackwell é que existe um consenso maior entre os pesquisadores que são contra as práticas deles. Muitos pesquisadores evitam esse tipo de confronto. Existe um tabu, um medo de se voltar contra publicações que têm prestígio. Se nós tivéssemos decidido incluir outras editoras, não sei se tantas pessoas teriam assinado a petição.
A razão pela qual nos concentramos na Elsevier e não na Springer ou na Wiley-Blackwell é que existe um consenso maior entre os pesquisadores que são contra as práticas deles. Muitos pesquisadores evitam esse tipo de confronto. Existe um tabu, um medo de se voltar contra publicações que têm prestígio. Se nós tivéssemos decidido incluir outras editoras, não sei se tantas pessoas teriam assinado a petição.
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