domingo, 26 de fevereiro de 2012

As moléculas que mudaram a história da Síntese Orgânica - Parte 1 - Introdução

  "Sua Majestade, Vossas Altezas Reais, damas e cavalheiros.
Em nossos dias, a química de produtos naturais atrai grande interesse. Novas substâncias mais um menos complicadas, mais ou menos úteis, são constantemente descobertas e investigadas. Para a determinação da estrutura, da arquitetura de uma molécula, temos hoje poderosas ferramentas. Os químicos orgânicos do início de século (1900) ficariam maravilhados com os métodos que temos agora em mãos. No entanto, não podemos dizer que o trabalho é fácil; a melhoria dos métodos faz ser possível o ataque a problemas cada vez maiores e difíceis e a habilidade da natureza em construir substâncias complexas, como visto, não tem limites.
No curso da investigação de uma complicada substância, o 'investigador' mais cedo ou mais tarde confronta-se com problemas de síntese, da preparação da substância por métodos químicos. Ele pode ter vários motivos para isso. Talvez ele quer checar a correta estrutura que ele encontrou. Talvez ele quer melhorar nosso conhecimento de reações e propriedades químicas da molécula. Se a substância é importante na prática, ele pode esperar que o composto sintético será menos caro ou mais facilmente acessível que o produto natural. Isto pode também ser desejável para mudar alguns detalhes da estrutura molecular. Ums substância antibiótica de importância médica é frequentemente isolado primeiro de um microrganismo. Normalmente existem um número de compostos relacionados com efeitos similares: eles podem ser mais ou menos potentes, alguns podem talvez apresentarem indesejáveis efeitos secundários. No entanto, esses compostos produzidos por microrganismos podem atuar para eles, como armas de defesa, mas para o nosso ponto de vista, como medicamento. Sé é possível sintetizar o composto, também pode ser possível modificar detalhes na estrutura e achar atividades mais potentes.
A síntese de uma molécula complexa é, entretanto, uma tarefa difícil: muitos grupos, todo átomo deve ser colocado na sua própria posição e o raciocínio para isso deve fazer sentido. É algumas vezes dito que a Síntese Orgânica é ao mesmo tempo uma ciência exata e uma fina arte. A natureza é de fato uma incontestável mestra, mas eu ouso dizer que o ganhador do prêmio Nobel de Química deste ano, Professor Woodward, é também."

Com essas elegantes palavras o Prof. A Fredga, um membro do comite do Nobel de Química da Acadêmia Real de Ciência da Suécia, procedeu a introdução de R. B. Woodward à cerimonia do Nobel em 1965, o ano no qual Woodward recebeu o prêmio pela arte da Síntese Orgânica.

Através dessa série de posts quero mostrar como a Síntese Orgânica passou a ser considerada uma das ciências mais elegantes e finas de todos os tempos. Mostrarei quais as moléculas que mudaram a história da Síntese e quais as pespectivas para o seu futuro.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Boicote a Elsevier!

Isso é extremamente importante para todos nos que vivemos de ciência.
Reportagem retirada por completo da Folha.com.


Um abaixo-assinado que critica as práticas de mercado da maior editora científica do mundo, a Elsevier, já tem mais de 6.200 signatários, a maioria pesquisadores de instituições públicas. O organizador do boicote contra a empresa, porém, está na iniciativa privada.
Tyler Neylon, 32 (imagem abaixo), diz que os altos custos de assinaturas de periódicos e o policiamento contra a livre circulação de artigos na internet prejudica as pequenas companhias que contribuem para a ciência e para a inovação.
Em entrevista à Folha, Neylon explica o que o motivou a começar o movimento.
Folha - O sr. está fora do meio acadêmico. O que o motivou a propor um boicote à Elsevier?
Tyler Neylon - Sou cofundador de uma empresa pequena e gosto de fazer pesquisa, mas não tenho como arcar com esses preços. Se eu quiser escrever um artigo sério, com cem citações, e o preço médio de periódicos científicos continuar em US$ 40 [cerca de R$ 68], faça as contas: eu teria de pagar US$ 4.000 [R$ 6.800] para submeter um único artigo. Se eu quiser assinar um periódico, o preço médio é US$ 22 mil [R$ 37,5 mil]. Mesmo eu tendo um doutorado hoje, fazer pesquisa é algo fora do meu alcance.
Você esperava que o abaixo-assinado ganhasse tanta força nas instituições públicas e universidades?
Bom, as pessoas que realmente têm influência são os professores universitários e eles estão mais a par de problemas como o dos NIH [Institutos Nacionais de Saúde dos EUA], que estão brigando pelo direito de abrir o acesso ao resultado de suas pesquisas. E esse é mesmo um problema importante, mas existem outros atrapalhando a pesquisa na iniciativa privada.
Como vocês esperam que a Elsevier reaja ao boicote?
A maior parte dos pesquisadores apenas quer abandonar completamente a publicação lucrativa e mudar para o acesso aberto, mas isso não é algo em que a Elsevier os acompanharia.
Uma coisa menos drástica que a editora poderia fazer é dar apoio a um projeto de lei de acesso público de pesquisa, que foi lançado há uma semana no Congresso dos EUA. Hoje eles apoiam outro projeto de lei, cujo objetivo é praticamente o oposto.

A Elsevier diz que não é contra o acesso aberto por princípio, mas alguém precisa pagar pelo processo de publicação e revisão.
A Elsevier precisa deixar mais clara a sua posição sobre o direito dos autores de publicar seus estudos em suas páginas pessoais. A política deles em relação a isso é muito confusa e contraditória. Uma coisa que eles poderiam fazer é adotar o modelo da Public Library of Science, uma editora científica que cobra os autores pela submissão de artigos, e não os leitores. Isso funciona porque autores que publicam em bons periódicos recebem benefícios em troca. E são sua universidades, em geral, que pagam essa taxa.
No meu caso, mesmo eu sendo um pesquisador independente em uma pequena empresa, eu preferiria pagar por isso --eles costumam cobrar uns US$ 1.000-- para publicar minha pesquisa, do que ter que arcar com os custos para fazer a pesquisa antes. No modelo da Public Library of Science, a motivação para pagar é colocada no lugar certo.
Uma das comunidades de pesquisa que mais aderiram ao documento é a dos matemáticos. Existe alguma diferença entre os matemáticos e os biólogos que os torne mais proativos na campanha pelo acesso aberto?
Eu não tenho como falar pelos pesquisadores de outras áreas. Talvez exista uma consciência maior na matemática, porque existe muita interação com as ciências da computação. Muitas pessoas na área têm consciência de quão fácil seria mudar todo o modelo de publicação científica. A única razão pela qual isso ainda não mudou é que alguns periódicos atuais ainda tem muito prestígio, e isso tem seu valor.
Vocês acham que vão afetar o prestígio de periódicos da Elsevier com o boicote?
Pelo menos três ganhadores da Medalha Fields --o prêmio para matemáticos que tem o mesmo peso de um Nobel-- já prometeram nunca mais publicar em periódicos da Elsevier. Timothy Gowers, Terence Tao e Wendelin Werner assinaram a petição. Em um dos periódicos da editora, um matemático anunciou que vai abandonar o conselho editorial. Então, acho que já estamos tendo algum impacto.
O abaixo-assinado não está tentando crucificar a Elsevier por uma prática que há em todo o setor de publicação?
Posso responder como isso ocorre na minha área: nenhum matemático recebe dinheiro para fazer revisão de artigos, e os editores dos periódicos também não são pagos. O fato de as editoras precisarem de dinheiro para organizar a revisão de artigos é verdade até certo ponto. Alguns periódicos têm editores e equipes pagos pela editora, mas na maioria das publicações não é assim.
Se tem tanta gente trabalhando de graça, por que não fazer isso dentro de uma plataforma em que o acesso aos artigos seja gratuito?
A razão pela qual nos concentramos na Elsevier e não na Springer ou na Wiley-Blackwell é que existe um consenso maior entre os pesquisadores que são contra as práticas deles. Muitos pesquisadores evitam esse tipo de confronto. Existe um tabu, um medo de se voltar contra publicações que têm prestígio. Se nós tivéssemos decidido incluir outras editoras, não sei se tantas pessoas teriam assinado a petição.