A molécula de hoje é a
Palitoxina (Palytoxin), uma molécula realmente grande e com "poderes"
também proporcionais. A palitoxina a possui fórmula C129H223N3O54,
massa molecular de 2680,14 g.mol-1 e densidade de 1,378 g/cm3 (variando
de espécie para espécie). É branca, amorfa, higroscópica e ainda não
cristalizada.
Estrutura da Palitoxina |
A Palitoxina tem
uma história interessante, na verdade uma lenda havaiana. A lenda dizia que na
ilha de Maui, perto do porto de Hana havia uma aldeia de pescadores assombrados
por uma maldição. Sempre que um pescador ia ao mar ele não voltava e isso
deixava os moradores perplexos. Um dia, enfurecidos por outra perda, os pescadores
da vila desconfiaram de um homem que ali vivia. Eles capturaram esse homem e quando
tiraram sua roupa ficaram chocados porque descobriram fileiras de dentes afiados
e triangular dentro de enormes mandíbulas. Um deus tubarão tinha sido
capturado. Ficou claro que os aldeões desaparecidos tinha sido comidos pelo deus
em suas viagens para o mar. Os homens sem piedade mataram o deus tubarão, o
queimaram e jogaram suas cinzas em uma poça de maré perto do porto de Hana.
Pouco tempo depois, um musgo marrom espesso começou a crescer nas paredes da poça
causando a morte instantânea de vítimas atingidas por lanças manchadas com o
musgo. O musgo ficou conhecido como "limu-marca-o-Hana", que
significa literalmente "algas da morte de Hana". Os havaianos
acreditam que uma maldição viria sobre eles se tentassem coletar a alga mortal.
Tendo tomado
conhecimento da lenda, os autores conseguiram chegar ao local consultando
vários nativos da região e lá coletaram uma pequena quantidade da
"alga", na verdade o zoantídeo Palythoa sp. Os habitantes da região
ficaram extremamente excitados com o ocorrido, lembrando da antiga lenda e de
como o local era considerado tabu. Na mesma tarde em que os autores coletaram o
animal, um incêndio de origem desconhecida queimou o prédio principal do Hawaii
Marine Laboratory na ilha de Coconut.
Palitoxina, é um
dos venenos mais potente conhecido, só perdendo para a Maitotoxina (ainda não sintetizada), retirada do muco da cavidade de intestino
de um zoantídeo (um tipo de coral) do gênero Palythoa, notavelmente da Palythoa
toxica , Palythoa tuberculosa e palythoa sp. Caracteriza-se por ser uma toxina
solúvel em água.
Sua determinação estrutural foi um marco na área de
produtos naturais, tinha que ser né, pois o tamanho da estrutura realmente
impressiona. Em 1971, os cientistas Paul J. Scheuer e Richard E. Moore,
conseguiram isolar a Palitoxina através de uma coleta do zoantídeo do gênero
Palythoa sp. e publicaram esses resultados na revista Science. Em 1989, Yoshito
Kishi, da Universidade de Harvard, junto com um grupo de colaboradores
multidisciplinares, chegaram à síntese do ácido carboxílico da Palitoxina,
porém o grupo de Kishi só finalizou a sua síntese da Palitoxina em 1994. Por ser
uma molécula muito complexa, a síntese total da palitoxina, proposta por Y.
Kishi, possui 40 etapas com 17 intermediários até a síntese do ácido
carboxílico. Após mais duas reações, a Palitoxina é finalmente sintetizada. Foram
mais de 10 anos para que sua síntese fosse concluída, entrando para a história,
pois a Palitoxina é o maior metabólito secundário sintetizado, além de possuir
inúmeros estereocentros (64). Somente em 1982 a estrutura correta com todas os
estereocentros atribuídos de forma absoluta foi publicada em uma série de
quatro artigos (1,2,3,4).